sexta-feira, 20 de maio de 2016

COMUNIDADES, UMA ABORDAGEM ECOLÓGICA


Comunidades biológicas são compostas por populações de indivíduos de várias espécies que habitam num mesmo território: seres humanos, plantas, animais etc.
O botânico e biogeógrafo canadense Pierre Dansereau elaborou um esquema da biosfera, com ordens e níveis de grandeza menores e maiores do que o nível do indivíduo. Menores são as moléculas, organelas, células, tecidos e órgãos. Maiores são as populações, comunidades, ecossistemas, bioclimas e biotas. (Figura 1)
O campo da Ecologia comunitária estuda a distribuição das comunidades, as relações ecológicas, incluindo a relação predador-presa; a abundância e disponibilidade de recursos, a riqueza de espécies, a dinâmica populacional.


Fig. 1 - Um esquema da biosfera, indicando as ordens de grandeza da relação ambiental. Uma delas é a comunidade. Fonte: Pierre Dansereau
O ser humano é uma das espécies que habitam na maior parte dos territórios do planeta. Na sociologia, na filosofia, no direito, na política e em outros campos, comunidades  são definidas como aquelas pessoas que se organizam conforme as mesmas normas, num mesmo local, sob o mesmo governo e compartilham do mesmo legado cultural.
Uma diversidade de motivações leva os indivíduos a se agruparem em comunidades. Há motivações biológicas e afetivas, como ocorre em famílias e clãs;  motivações étnicas e de segurança, em tribos que resistem a pressões externas;  interesses de vizinhança, em clubes e associações de moradores que defendem objetivos comuns; há motivações profissionais e econômicas, quando  indivíduos se agrupam em empresas, corporações, associações de classe, sindicatos de trabalhadores, ordens; há comunidades que se unem para praticar crimes (máfias, quadrilhas, gangues) e aquelas que se movem em busca de lucro financeiro, como por exemplo as de acionistas e investidores que se reúnem em assembleias. Há  comunidades com afinidades de ideologias,  crenças e religiões que se congregam em igrejas e comungam ideias, cosmovisões ou interesses; comunidades político-partidárias, agrupadas em governos e partidos políticos. 
As várias escalas de comunidades vão de um indivíduo (cujo próprio corpo é um ecossistema habitado por múltiplos micro-organismos); a um grupo familiar, uma vizinhança, uma cidade, um país, até a escala do planeta (Figura 2).  Mais além do planeta, comunidades cósmicas incluiriam as formas de vida existentes em outros corpos celestes e em outros lugares do Universo.

 
Figura 2 – Escalas de uma comunidade. Além dessas, há a escala cósmica. Fonte: Pierre Dansereau
 
Algumas comunidades são densas e locais, outras dispersas e globais.  Há comunidades econômicas e políticas supranacionais, como os grupos de países que se associam para atingir objetivos comuns, a exemplo da Comunidade Econômica Europeia. No mundo contemporâneo, impulsionado pelas novas tecnologias da informação e da comunicação, há comunidades virtuais, como os grupos em redes sociais (Whatsapp, Facebook) ou que constroem a Wikipédia, e que formam bolhas nos ecossistemas informacionais.
Indivíduos, populações e comunidades se adaptam aos ambientes e também os transformam. Transformações graduais ou abruptas no ambiente podem trazer riscos à segurança de comunidades. Há aquelas que sofrem impactos, e aquelas que causam impactos ou externalidades. Assim, por exemplo, as pequenas ilhas do Pacífico tendem a desaparecer ao sofrerem a elevação dos níveis dos mares, agravada por gases de efeito estufa emitidos muito distantes dali, em países industrializados.  Várias comunidades de agricultores locais são impactadas pela exaustão da água. Os ônus e bônus das atividades humanas se distribuem desigualmente e provocam reações, tais como os suicídios de camponeses empobrecidos na Índia ou o de idosos com precária previdência social no Chile.
Na escala de empresas e organizações e em torno delas gravitam várias comunidades ou subgrupos. As diversas partes interessadas de uma comunidade envolvidas com uma atividade econômica (stakeholders), têm diferentes interesses quanto a emprego, renda, qualidade de vida, segurança, proteção ambiental. (Figura 3).  
Figura 3 – Stakeholders ou partes interessadas de uma empresa ou organização.

As organizações comunitárias das vizinhanças de um empreendimento poluidor procuram obter compensações e reduzir os danos que a atividade provoca no ambiente, manifestado por exemplo por tribos e comunidades locais, diante de grandes projetos de infraestrutura e de mineração; os órgãos de governo licenciam e autorizam o funcionamento de empresas que geram empregos e renda. Os trabalhadores procuram maximizar seus salários e melhorar as condições de trabalho; os dirigentes, presidentes, executivos e técnicos operacionalizam a empresa, supervisionados por conselhos de administração. 

 
 A força econômica, política e social de cada uma dessas partes interessadas é desigual e algumas têm mais força do que outras para fazer prevalecer seus interesses. Com frequência prevalecem os interesses do desenvolvimento econômico que vem de cima para baixo e de fora para dentro, sobre os interesses de proteção e cuidado com o ambiente local. 
A maior parte dos investidores e acionistas (shareholders) se interessa em maximizar o rendimento do capital que investem na empresa. A mudança de atitudes e valores entre os acionistas  e investidores pode fazer a diferença pois, com o poder do capital, eles são uma comunidade com forte influência sobre o modo como se gerencia uma corporação.
 A comunidade, ainda minoritária,  dos investidores éticos e dos acionistas engajados (concerned shareholders), no seu próprio auto interesse de não ter prejuízo com potenciais desastres, passa a exigir dos gestores e executivos de empresas não somente lucros, mas também responsabilidade socioambiental.
Quando se expande a escala para abarcar também as comunidades cósmicas, abre-se um campo potencial e ainda virtual em direção ao qual o conhecimento científico crescente sobre o universo parece apontar.




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