segunda-feira, 22 de junho de 2015

Noodiversidade e rede social

Somos quase sete bilhões de indivíduos no planeta. Cada um tem sua impressão digital única. Há uma diversidade de indivíduos dentro da unidade da espécie. Há, também, bilhões de manifestações da consciência. A esfera da consciência é a noosfera, conceito elaborado pelo paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin, em seus estudos sobre a evolução. A noosfera engloba o conhecimento interior, ideias, espírito, linguagens, teorias, conjunto de energias mentais, pensamentos, emoções, sentimentos, informações, geradas ou captadas desde o início da vida, e que constituem uma sutil camada que circunda o planeta. A raiz grega da palavra, nous, significa o espírito e a consciência intuitiva. Refere-se à imaginação, ao subjetivo, ao todo, ao pensamento flexível e complexo. Da raiz nous deriva também a palavra noética - a ciência da mente humana, que se refere à consciência pura ou intuitiva. As ciências noéticas exploram a natureza e os potenciais da consciência, acessando direta e intuitivamente o conhecimento, para além dos sentidos normais e da razão. Elas exploram a experiência subjetiva e o universo interior da mente individual e coletiva, relacionados com a sabedoria das tradições espirituais e com o mundo físico exterior. Também deriva a palavra noologia, o estudo sistemático de tudo o que se refere ao espírito, ao conhecimento e ao aparecimento e evolução dos pensamentos. Hoje em dia se valoriza a biodiversidade e se procura proteger espécies ameaçadas de extinção. A diversidade da vida ajuda a dar mais estabilidade e a reduzir riscos para a vida humana. Um conceito ainda pouco conhecido, pouco valorizado, a noodiversidade é igualmente valiosa. Um espaço em que se percebe com clareza a noodiversidade é nas redes sociais. Ali as pessoas expressam o que lhes passa pela cabeça, seus interesses, motivações, as causas pelas quais se comprometem e lutam, ou simplesmente jogam e se divertem. As mensagens postadas mostram a noodiversidade, a diversidade de estágios de consciência humana: a diversidade de assuntos e de interesses, de motivações, de abordagens (ativismo e defesa de causas, afetividade, autoajuda, divulgação de informações consideradas relevantes, autopromoção etc). Há pessoas monotemáticas, fixadas num assunto específico; outras têm um leque amplo de interesses e comentam as ideias de outros. Uns se interessam por gatos, outras por sapatos, por cinema e filmes, arquitetura, frases inspiradoras, humor e piadas, futebol, notícias de economia, ecologia, saúde, alimentação, denúncias, campanhas políticas e ideológicas, militância partidária, futebol. Algumas se mostram e autopromovem, outras apenas observam. Ao mesmo tempo essas redes se tornaram arenas de luta nas quais se revelam as dificuldades de lidar com ideais diferentes, a intolerância, as agressões. Cada pessoa que se conecta na rede social é um neurônio no cérebro global. A rede social também abre oportunidades para praticar uma boa ação diária: veicular e circular ideias edificantes. A tendência ao pensamento único, à hegemonia ideológica, a impor uma forma de ver o mundo, à intolerância e impaciência com quem pensa diferente está presente em diversas situações da vida social e política. O fanático não tolera a existência do diferente e procura suprimi-la. Tolerância, compaixão, capacidade de ter empatia e de se colocar no lugar do outro são qualidades que dão espaço para o florescimento da noodiversidade. Neste momento, diferentes estágios, modos e estados de consciência estão sendo vividos pelos bilhões de indivíduos e pelas diversas parcelas da humanidade – do astronauta à tribo isolada na Amazônia passando pelas populações urbanas e pelos agricultores. A crise climática e o risco do colapso ecológico ajudam a despertar para a era do conhecimento intuitivo, uma etapa da evolução que se baseia no desenvolvimento da consciência humana e não mais nos lentos processos da evolução biológica. Matéria (geodiversidade), vida (biodiversidade) e consciência (noodiversidade) integram um mesmo espectro. Mas a evolução da matéria é lenta e se processa nos ritmos da história geológica; a evolução biológica é mais rápida; e a noológica (da consciência intuitiva), é veloz como um raio. A noodiversidade é mais ampla do que a biodiversidade ou a diversidade social e cultural, pois a consciência é fluida, impermanente, intercambiável, sofre influências e transformações constantes e tem a sua dinâmica própria. Estamos no estágio terminal da era cenozoica (a era dos mamíferos) e no umbral da era ecológica (ou noológica) da evolução da história na Terra: uma era em que a vida passa a ser governada pela consciência ecológica, que compreende sermos parte integrante de um organismo vivo e consciente; e entende que da saúde desse organismo depende nossa saúde e sobrevivência.

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